Albatroz
Quase esqueci de o amarrar hoje pela manhã.
Eu o coloquei em meu ombro fiz questão de me lembrar para
alimentá-lo; depois de alguns minutos ele estava satisfeito e eu exausto.
Tinha adotado aquele espécime há dois anos, desde então era
meu fiel companheiro. Seja em meu ombro ou pescoço, ele sempre estava lá e eu
sempre teria que carregá-lo. No dia em que ele apareceu eu não estava muito
bem, ele só chegou e pousou em minha janela para ficar me observando, depois de
alguns dias ele finalmente entrou em meu quarto e, depois de uma semana, se
agarrou em meu pescoço me obrigando a carregá-lo para qualquer lugar.
Com o tempo as pessoas começaram a notá-lo. Primeiro o
acharam fofo, “Que bonito, é seu?” eles perguntavam, mas depois começaram a
odiá-lo, dizendo que ele havia me mudado, “Mande esse animal idiota embora!”
eles ordenavam.
Mas eu nunca fiz isso, na verdade em minha visão ele me
fazia bem. As pessoas que não viam assim e se afastavam.
Mas eu não liguei, não me importava. Ele me fazia bem.
Sai de casa com ele hoje, era pesado carregá-lo, mas eu
continuava com ele até onde ia. Eu nunca o esqueci em nenhum lugar, até ele
fazia questão de me lembrar que estava ali, isso quando simplesmente voava até
mim e pousava em meu ombro.
Às vezes ele me bicava, fazia feridas que demoravam a
cicatrizar. E eu até podia me irritar com ele, mas nunca o deixava voar para
longe. Às vezes ele pesava tanto que me derrubava no chão e depois ficava sobre
mim cantarolando, quando alguém vinha me ajudar ele atacava, e mesmo assim a
pessoa não desistia e me colocava em pé enquanto minha mascote voava, eu só
agradecia e tentava seguir meu caminho, mas logo ele voltava e pousava em meu
ombro. E eu ficava feliz, pois nunca iria deixá-lo ir.
Certa vez apareceram pessoas que pareciam querer me ajudar,
“Queremos tirar esse seu fardo” elas diziam, mas eu não entendia o porquê disso
e recusava ajuda. Até que um dia o tiraram de mim e o prenderam em uma gaiola,
eles me afastaram dele, à força. Admito que fiquei entediado e irritado de
início, queria minha mascote de volta, mas logo a dor de seu peso sumiu e eu
percebi que não tinha que alimentá-lo ou carregá-lo, foram esses meus melhores
dias.
Mas então ele se soltou. Minha mascote veio furiosa voando
para mim até laçar meu pescoço e se prender ali. Isso foi hoje. Eu então lutei
com ele, tentava me soltar da corda, havia me cansado dele. Decidi que não
seria um poeta maldito.
Eu o levei até o penhasco perto do mar e o sacudi para longe
do meu ombro e de mim, mas ele não queria voar. Então apareceram pessoas,
várias dispostas a me ajudar e só assim eu consegui finalmente tirá-lo de mim e
lançá-lo ao céu.
E ele voou para o horizonte.
Sussurrei sozinho: “Adeus! Estou bem sem você”
Ele voou para longe, dessa vez tentando escapar. E eu percebi
que não teria que alimentá-lo ou carregá-lo nunca mais.
Ele voou cada vez mais alto, mas seu peso o puxou para
baixo.
E eu nunca iria adotar um dos seus novamente.
Ele começou a se debater enquanto caía em queda livre. Caíam
cada culpa, cada arrependimento, cada tristeza que eu carregava... Ele
despencava levando tudo.
Então ele parou de bater suas asas e caiu no mar, para
morrer e afundar.
Adeus albatroz, não pense em voltar.
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